terça-feira, 19 de abril de 2011

Caminho de Santiago


Dia 1

Porto – Valença | 140 km | 9h40 | 9695 Kcal

Porto | Vilarinho | S. Pedro de Rates | Barcelos | Ponte de Lima | Rubiães | Valença

O grupo reuniu-se por volta das 6h30 da manhã na Sé do Porto. Para chegar lá foram realizados cerca de dez quilómetros e os demais elementos foram-se juntando à caravana que foi passando por casa de cada um.

Depois da tradicional foto em frente à Sé começámos a seguir as setas amarelas. Seguimos por Cedofeita contornámos o Largo da Ramada Alta, depois percorremos a Rua 9 de Julho e de seguida prosseguimos pela Rua do Carvalhido que nos levaria até à Maia.

O primeiro local de descanso foi num local próximo de Vilarinho à entrada da Ponte Românica D. Zameiro. Depois da travessia, existe uma primeira subida íngreme a fazer lembrar que o caminho ainda mal tinha começado.

Já próximo de S. Pedro de Rates surgem os primeiros trilhos em terra. Com a trepidação os objectos que estavam mal presos começaram a cair das bicicletas.

O termo peregrinação (do latim per agros, ou seja, pelos campos) começava a aplicar-se aqui na sua plenitude.

Em poucos minutos chegamos à igreja Românica de S. Pedro de Rates, Póvoa de Varzim, classificada como monumento nacional foi reconstruída no ano 1100 e é considerada como um dos mais importantes monumentos românicos medievais. As origens do templo antecedem a própria nacionalidade. Aqui, conseguimos obter o nosso primeiro carimbo para a nossa credencial.

Quer a Igreja, como o Núcleo Museológico da Igreja Românica de S. Pedro de Rates bem como o espaço público envolvente, são de visita obrigatória.

Prosseguimos viagem até Barcelos. A ponte medieval sobre o Rio Cávado é uma edificação Gótica do início do séc. XIV. Supostamente, terá sido a Rainha Santa Isabel uma das suas primeiras utilizadoras visto que após a morte de D. Dinis em 1325 partiu em peregrinação e terá utilizado a ponte para fazer a travessia de forma a evitar o desvio por Braga. Foi com a construção desta ponte e com a remodelação da Ponte de Ponte de Lima na mesma época, que foi possível criar um percurso mais linear.

Depois de uma breve visita às ruínas do Paço dos Duques de Bragança e à Igreja Matriz, não podia faltar o natural registo fotográfico do Galo que tem o nome da própria terra.

Depois de um breve percurso pelo centro histórico obtivemos um novo carimbo na Igreja do Bom Jesus da Cruz, situada na praça junto à Avenida da Liberdade.

É uma igreja com planta em forma circular segundo o projecto do arquitecto João Antunes e edificada entre 1698 e 1710. Possui no seu interior talha da autoria do escultor Miguel Coelho.

É uma Igreja com um estilo que o teórico George Kubler caraterizou como arquitectura chã, um estilo muito marcado pela austeridade das formas, particularmente avesso a experiências vanguardistas. Um estilo de reação às influências estrangeiras, inserido numa lógica de continuação da tradição nacional em detrimento da ruptura com o passado.

Prosseguimos em direcção a Ponte de Lima. Os cerca de trinta e três quilómetros de distância que separam os dois municípios foram percorridos em pouco menos de duas horas, com uma paragem pelo meio para abastecer de água. É uma parte do caminho que cruza muitos campos e os locais de abastecimento escasseiam.

Foi também uma parte do percurso algo extenuante, dado o calor e a muita fome que também já se fazia sentir.

Chegámos a Ponte de Lima por volta das 14h30 e parámos para almoçar. A esplanada do restaurante virado para o Rio Lima foi o local escolhido.

Depois do almoço e após um merecido descanso voltámos ao caminho. Os cerca de dezoito quilómetros até Rubiães atravessam a serra da Labruja e esta parte do percurso apresenta partes particularmente íngremes com obstáculos consideráveis, constituídos por pedras em granito angulosas e de dimensões consideráveis.

No início surgem alguns quilómetros de single tracks em lajeado de granito junto a uma pequena linha de água. Aqui a passagem também não é muito fácil dada a irregularidade e a humidade das pedras. Nesta parte do percurso tive uma pequena saída do single track e apesar de não ter tido consequências para mim, no caso da bicicleta já foi bem diferente. O travão hidráulico da frente ficou danificado e ficou sem acção. Os restantes 180 quilómetros foram feitos só com o travão de trás e mesmo esse, cheguei a ficar sem ele e precisamente numa descida, como mais à frente poderão ler.

Esta parte do percurso revela-se interessante com vegetação variada e paisagens insólitas como os campos repletos de girassóis e termina num empedrado em granito bastante irregular provavelmente um caminho com muitas centenas de anos.

Depois de percorridos alguns quilómetros atingimos o sopé da serra da Labruja. Certas partes deste troço parecem-se mais com uma parede de escalada do que com um caminho milenar transponível por vulgares peregrinos. Mesmo a pé, esta parte é difícil.

Aqui as bicicletas tiveram que ser literalmente empurradas à mão monte acima. Em poucos quilómetros subimos até à cota altimétrica de 405 m quando tínhamos saído de Ponte de Lima com uma cota altimétrica de cerca de 20m.

Nesta subida um dos pontos de referencia é a denominada Cruz dos Franceses ou Cruz dos Mortos que assinala o local onde a população local nas invasões francesas fez uma emboscada aos retardatários do exército de Napoleão.

Depois de uma descida acentuada chegámos finalmente ao albergue de Rubiães já ao fim da tarde. Infelizmente, já se encontrava cheio e fomos obrigados a pedalar até Valença.

Já em Valença quando chegámos ao albergue S. Teotónio já estava noite e eram cerca de vinte e uma horas, estávamos cansados e famintos. Este primeiro dia apesar de muito cansativo, com 140 quilómetros percorridos e com muitas horas em cima da bicicleta, permitiu-nos apesar de tudo, reduzir alguns quilómetros no nosso planeamento inicial para o segundo dia, facto que nos pareceu positivo na altura, porque não sabíamos em que condições físicas nos encontraríamos no dia seguinte.

Dia 2 | 17 ABR 11

Valença - Brialhos | 77 km | 5h39 | 3781 Kcal

Valença | Porriño | Redondela | Pontevedra | Brialhos

Com uma sessão tão dura no dia anterior, o despertar não foi fácil. Felizmente, ao nível físico ninguém se tinha ressentido muito a moral contudo, não estava alta. Começámos a pedalar devagar mas na direcção da pastelaria mais próxima. Sem misericórdia foi desferido um violento ataque nos bolos com creme aí existentes. Depois de repostas as energias e já com mais vontade de pedalar tomámos a direcção Norte e rapidamente e sem grande procura tropeçámos de novo no “camiño”.

Atravessámos a ponte centenária sobre o rio Minho. A Ponte inaugurada em 25 de Março de 1886 tinha feito 125 anos poucos dias antes da nossa passagem. Tínhamos chegado a Espanha.

Em Tui, tentámos obter um carimbo na Catedral de Santa Maria de Tui mas não tivemos sucesso.

Na progressão do caminho percorremos várias artérias do centro histórico de Tui que é muito interessante. Poucos quilómetros à frente cruzámos a ponte Romana sobre o Rio Louro.

Depois durante alguns quilómetros andámos em paralelo com a Autopista del Atlántico por zonas de bosque com alguns elementos interessantes como pontes em pedra e em madeira com o caminho sempre a serpentear o Rio Louro.

O caminho percorre depois a zona industrial de Porriño. Naturalmente um cenário bem menos interessante. Em Porriño tentámos mais uma vez obter carimbos mas de novo sem sucesso. Na pequena Igreja de San Benito não estava ninguém e na Igreja de Santa Maria estava tanta gente que desistimos.

Os carimbos na credencial são importantes por duas razões, primeiro porque sem eles não é possível o acesso aos albergues, depois porque no fim da viagem, é perante a credencial carimbada que emitem a Compostelana, que é uma espécie de certificado de peregrinação.

De novo no caminho, prosseguimos viagem até Redondela. Subimos depois, até próximo do aeroporto de Vigo.

Na descida para Redondela, algumas secções possuíam um declive algo acentuado para quem com eu, só circulava com o travão de trás. Na descida mais acentuada, e visto que restava apenas um travão apenas para aguentar tanto peso e provavelmente devido ao aquecimento excessivo perdeu acção. Felizmente tinha acabado de fazer uma descida e estava a iniciar outra, mesmo assim, quando ambos os travões deixaram de funcionar, os pés no chão não a conseguiram travar e a bicicleta começava a embalar monte abaixo com todo aquele peso, tive inevitavelmente que me atirar para o alcatrão. A queda não foi grave, consegui de novo pedalar e conseguimos também afinar de novo o travão de trás. Caso contrário a minha volta teria terminado fatalmente naquela descida.

Chegados a Redondela e depois de alguns “quilómetros” à procura de restaurante conseguimos almoçar bem, graças à dica da senhora do atendimento, do albergue local.

Prosseguimos para Pontevedra. Alguns quilómetros com subidas com inclinação superior a 15% e o calor à mistura e logo a seguir ao almoço, foi uma sobremesa pouco doce.

Já na descida passámos por uma estrutura onde os peregrinos deixam mensagens em conchas. Também deixámos por lá a nossa assinatura.

Parámos próximo da ponte Medieval de San Paio. Terá sido logo a seguir, num intricado núcleo habitacional de matriz medieval que encontrámos a subida com maior inclinação de todo o percurso com cerca de 25%. Pouco depois apanhámos mais algumas secções que fizeram recordar a serra da Labruja com as bicicletas a terem que ser empurradas à mão, felizmente apenas durante alguns metros.

Em Pontevedra fica a referencia à Ponte projectada por Santiago Calatrava e edificada em 1987, muito parecida com a Ponte de Alamillo em Sevilha, mais famosa devido à Expo 92.

Até Brialhos, percorremos através uma mancha florestal e depois uma área de campos de cultivo até desembocarmos de novo na estrada N-550. O albergue não está à face do percurso como a maioria dos que vimos.

Chegados ao albergue mas estava fechado. Contudo, estava pendurada uma folha A4 com a seguinte indicação: Contactar a Proteccion Civil. Telefonámos e atenderam, ao Domingo ao fim da tarde, fabuloso! Poucos minutos depois apareceu um homem no jipe da Proteccion Civil e levou dois de nós até ao restaurante mais próximo que ainda era distante, para comprar comida para todos. O albergue é fantástico.

Fica também aqui o agradecimento à Proteccion Civil Espanhola.

Dia 3 | 18 ABR 11

Brialhos – Santiago de Compostela | 51 km | 3h31 | 2675 Kcal

Brialhos | Padron | Santiago de Compostela

Neste último dia, custou ainda mais dar início à volta. Num percurso misto entre áreas florestais, campos de cultivo e pequenas localidades fomos avançando até Padron. Este percurso não tinha grandes declives e foi transposto com alguma facilidade.

Em Padron fomos tomar um merecido pequeno almoço.

A ansiedade de chegar a Santiago começava agora a instalar-se. Esta última parte do caminho serpenteia durante vários quilómetros a N-550 e mais uma vez num percurso misto entre áreas florestais, campos de cultivo e pequenas localidades fomos progressivamente aproximando do fim da setas. O declive nesta última parte era um pouco mais acentuado e o cansaço acumulado fizeram aumentar ainda mais os níveis de ansiedade.

Nos últimos quilómetros parecia que Santiago nunca mais aparecia. Teria desaparecido?

Finalmente chegamos à cidade, mas ainda nada de Catedral. Continuámos a rolar até ao centro da cidade, mas as setas amarelas, ou as conchas (em Espanha existem os dois símbolos), no reboliço da cidade são mais difíceis de encontrar.

Já foi com a indicação dos locais, sempre curiosos em relação à nossa proveniência, que fizemos as últimas centenas de metros até à praça da Catedral. De fachada Barroca, é um edifício imponente e um excelente cenário para as últimas fotografias.

Fomos de seguida à oficina do peregrino levantar a Compostelana.

Almoçámos com os condutores que nos foram resgatar e que aproveito mais uma vez para agradecer e voltámos para o Porto, desta vez num meio de transporte um pouco mais confortável.

Pela minha parte acho que foi uma experiência fantástica!

Totais:

268 km | 18h50 | 16151 Kcal

Caminhos Santiago

Surgiu a ideia de fazer este ano, os caminhos de Santiago de bicicleta. O grupo que se costuma encontrar semanalmente para os lados de Valongo para praticar BTT, reuniu esforços e fez os preparativos necessários para enfrentar o desafio.

Viajar com todos os itens indispensáveis para uma viagem deste género implica uma boa preparação porque um dos objectivos, foi desde logo, realizar a viagem em autonomia total. O que levar, como carregar essas coisas, preparação mecânica da bicicletas, análise do percurso e dos locais para pernoitar foram algumas das questões que foram sendo resolvidas durante a fase de preparação, que decorreu sensivelmente durante os dois meses imediatamente anteriores à viagem.

Dividimos em duas parte os itens a transportar. Os itens de ordem pessoal e os itens do grupo para evitar a repetição de objectos. Ao nível dos itens do grupo objectos como bombas, ferramentas, entre outros foram pesados e distribuídos entre todos.

O peso das bicicletas que se situa entre os onze e os treze quilogramas passou com os alforges carregados, para uns intimidadores vinte e poucos. A dinâmica que as bicicletas apresentam e a forma como se comportam com os alforges também muda. Obviamente o peso envolve mais esforço, o esforço de travagem aumenta, particularmente nas descidas mais acentuadas e obriga que as trajectória sejam mais cautelosas. O único ponto aparentemente positivo associado ao acréscimo de peso é o aumento de tracção nas subidas.

A escolha dos dias para realizar o percurso também pode ser complexa porque à distancia de dois meses as previsões climatéricas são muito incertas. A escolha do fim-de-semana de 16, 17 e segunda-feira 18 de Abril acabou por revelar-se acertada, não esteve demasiado calor e acima de tudo não choveu

Caminhos de Santiago

A BTR percorreu os caminhos de Santiago nos passados dias 16, 17 e 18 de Abril, sem qualquer tipo de apoio, estivemos dependentes de nós mesmos e da habilidade do R.A. que munido do seu Vitorinox foi resolvendo os vários problemas mecânicos que surgiram.
Brevemente teremos fotos e vídeos desta épica viagem.